Mestre Tio Robson
O nosso Berimbau entra onde o poder público não entra e vai onde o caveirão não vai. Fazemos o trabalho de socialização e ressocialização, somos ponte da família com a sociedade.
“O valor de um Mestre de Capoeira
não se mede pelo número de inimigos que ele derrotou,
mas sim pelo número de amizades que ele conquistou”.
Mestre Tio Robson
O tio de tanta gente, Mestre Tio Robson, Robson da Costa Dias, nascido em Niterói, é um homem que trabalha na área da educação, por meio da capoeira. Nascido em 1963, é branco e sustenta a sua família com capoeira. É mestre de capoeira, desde 1992, vigilante e animador cultural da Secretaria de Estado de Educação do RJ, também atua na Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo. Trajetória iniciada com o projeto de educação de Darcy Ribeiro e Brizola, na década de 1980. Estudou nas escolas públicas da região. É do grupo Filhos do Kikongo (com 30 anos de existência). É formado no grupo Associação de Capoeira Modelo Cultural Kikongo.
“Junto de nosso Mestre Machado e com Mestre Paulão Kikongo, são mais de 30 anos na educação. Tudo que eu tenho foi a capoeira que me deu. Não fui eu que escolhi a capoeira, foi ela que me escolheu. Fidelidade e Gratidão à capoeira. Por tudo que a capoeira proporciona. Desde o trabalho de sustento de vida e da família, à militância política em defesa da capoeira. As lutas conquistadas – A Lei da Capoeira em Niterói e a Lei da Capoeira em São Gonçalo, que institui o ensino da Capoeira nas escolas. “
“Sou muito feliz pela capoeira ter me proporcionado pessoas boas para construir bons caminhos. Muitos amigos e parceiros, que me ajudaram e me ensinaram, nessa volta do mundo que a capoeira me dá. Grato ao Mestre Paulão por todas as parcerias durante esses 40 anos de companheirismo. Grato ao meu Mestre Machado por toda a construção de sua vida, ao ensino e à educação. Sua brilhante luta por uma vida digna e por todas as suas conquistas.”
Uma trajetória na capoeira
Mestre Tio Robson iniciou sua trajetória na capoeira na década de oitenta, de maneira institucional, no grupo: Associação Modelo Cultural Kikongo, com Mestre Machado, José Machado dos Santos. Anteriormente, fazia parte da capoeira de rua, prática sem vínculo com pequenos grupos, em praças e encontros de capoeira, em Niterói.
Antes do trabalho com a capoeira, Mestre Tio Robson, serviu ao Exército, depois foi camelô e trabalhava com artesanato, no centro de Niterói. Nesse tempo, iniciou a vida na academia, aluno de capoeira. Colaborava com a academia e com o grupo, de várias formas – por meio do trabalho na manutenção do espaço, cuidado e limpeza, e, também financeiramente. Na trajetória de participação no grupo Kikongo, junto de Mestre Paulão Kikongo, atuou para a difusão do grupo pela região do Rio de Janeiro, inscrevendo o grupo nas Ligas e realizando intercâmbios e trocas com outros grupos.
“São quatro décadas de vivência na capoeira, com muitas histórias de violência e racismo contra a capoeira. Certa vez, uma Prefeita de São Gonçalo proibiu o uso do Atabaque nas escolas, atingindo a capoeira e as matrizes africanas. E a mobilização da comunidade da capoeira reverteu o quadro, garantindo que o atabaque pudesse voltar para as aulas de capoeira, no município de São Gonçalo.”
Mestre Tio Robson
fotos: Maria Buzanovsky
Fazendo a capoeira acontecer
Recebeu outros nomes, mas não vingaram. Ficou o nome Robson. Na época de instrutor de capoeira, Mestre Tio Robson, começou a atuar na educação como animador cultural, consequentemente, começou a ser chamado de Tio Robson. Dessa forma, o nome Tio Robson ganhou força. Nome que foi dado pela comunidade da capoeira e pela sociedade em geral.
Atuou em vários bairros no município de Niterói e no município de São Gonçalo. Durante dezessete anos ininterruptos realizou atividades culturais da capoeira em intercâmbio com o Mestre Edvaldo Baiano e Mestre Grandão (Associação de Capoeira Engenho) – Rio de Janeiro x Bahia. Evento pausado em virtude da pandemia.
Faz a capoeira acontecer, no Espaço Cultural Filhos do Kikongo, em Ipiíba, São Gonçalo, onde ocorrem vários projetos em parceria com a Prefeitura de São Gonçalo. Também realizou o espaço Varanda Cultural – Filhos do Kikongo, em Niterói.
Efetivou projetos…
no Valonguinho, no Diretório Central dos Estudantes – DCE da UFF; no SESC; na Academia Atitude Esportiva e na Escola de Samba Acadêmicos do Sossego, ambas localizadas no Largo da Batalha em Niterói; no CIEP 126 Almedorina Azeredo, no Clube dos 50, Espaço Cultural do Dailton, Rio do Ouro, São Gonçalo. Em Niterói, no CIEP do Badu, em Niterói; CIEP Djanira; Atividades em Colônias de Férias, nas escolas da rede municipal de Niterói, no Projeto Colônia de Férias Nota 10; Escola Padre José de Anchieta; Sítio do Ipê; Colégio Honorina de Carvalho; Escola Heloneida Studart; Escola Olga Benário; Escola Portugal Neves; Associação de Moradores de Maria Paula; Escola Fazendinha; Instituto Gingas, APAE de Niterói; ANDEF – Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos, Rio do Ouro Niterói; Maricá: Centro Educacional de Itaipuaçu – CEI; Sintraconst-Rio Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, Rio de Janeiro; Projeto Artesanafro.
Participa de eventos como convidado, grupo convidado, realizando trocas. Cumpriu mandato como Conselheiro de Políticas Culturais, âmbito estadual e federal.
A capoeira agindo para mudar a realidade das famílias
A vida na educação teve início com o projeto de educador cultural dos CIEPS. Muitos governos do Estado e dos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá, contribuíram para a educação e a capoeira, dando continuidade por meio dos projetos: Todos pela Paz, Jovens pela Paz, Escolas de Paz, Escola Aberta, Mais Educação, Mais Cultura, Férias Nota Dez!
O Mestre atende a comunidade do entorno do CIEP 126 – Almedorina Azeredo – moradores da comunidade da Linha, Buraco Quente e Bairro Rio do Ouro. Realiza atividades para reconquistar a comunidade para a escola, trazer novamente o aluno que evadiu. Os problemas sociais são vastos, abuso de drogas, álccol, abuso sexual, violência, etc. E, a capoeira age para mudar a realidade das famílias, das comunidades e das pessoas. Atuando no indivíduo e em sua coletividade.
“Capoeira é luta diária, trincheira cultural e resistência. É um trabalho muito árduo, onde fazemos o papel que o Estado não faz. Então, costumamos filosofar e brincar de forma realista e dizemos: que o nosso Berimbau entra onde o poder público não entra e vai onde o caveirão não vai. Fazemos o trabalho de socialização e ressocialização, somos ponte da família com a sociedade.
Muitas crianças, adolescentes e jovens são vítimas da violência, e ver essa realidade ser transformada por meio da capoeira e da educação, vendo essa juventude concluir seus estudos, ingressar no ensino superior, morar no exterior trabalhando com a capoeira, não tem preço.”
Editais, prêmios, apoios.
Participou dos Editais: Ativos Culturais (Niterói); Editais de Cultura da Lei Aldir Blanc; Secretaria Municipal de Cultura de São Gonçalo, Secretaria Municipal de Cultura de Niterói; Prêmio de Cultura Afro-Fluminense da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro; Edital de Cultura e Território da Secretaria de Cultura de Niterói. A gestão de cultura de Niterói deu condições para a manutenção da capoeira e da salvaguarda dos Mestres. Apoiou a capoeira durante o período da pandemia, com editais.
“A capoeira é tudo que a boca come. Assim como Exu que é tudo, é a capoeira. Capoeira para mim é tudo. A Capoeira me deu o pão de cada dia, tudo que a boca come. Parodiando Exu, a Capoeira é tudo que coube na minha vida. Capoeira é poder. O poder pode, poderosamente, ser ferramenta de inserção e reinserção na sociedade. É o exercício de cidadania plena, é a liberdade. A liberdade de Expressão e a Expressão da liberdade. Até aqui nos ajudou o Senhor Ogum.”
Racismo e as resistências
A respeito da Salvaguarda da Capoeira, Mestre Tio Robson tem muitos sonhos,
“I have a dream” (Martin Luther King Jr) – Que a Capoeira seja parte da educação nas escolas, na luta por uma educação e uma sociedade mais justa, pelo fim do racismo.” O poder público atuar para o plano de salvaguarda é uma missão para preservar nossas tradições e ancestralidade. Garantir a plena existência dos Mestres, durante a vida e a morte. Para que a dignidade esteja presente na vida e na morte dos nossos Mestres.”