Mestre Preguiça
Já vi a capoeira tirar muitas pessoas de caminhos ruins. A capoeira equilibra as relações familiares. Equilibra o indivíduo para que ele possa viver melhor.”
“Todo brasileiro deveria treinar capoeira.
Todo brasileiro deveria dar valor à capoeira.
É nosso! Capoeira é tudo!”
Mestre Preguiça
Mestre Preguiça, Moisés da Silva Neves, nasceu no município do Rio de Janeiro e atualmente mora em São Gonçalo. Nascido em 1964, é um homem preto, formado na Capoeira. É segurança e motorista e há dez anos dedica-se integralmente à capoeira. Faz parte da Associação Iê Capoeira, cujos Mestres fundadores são: Mestre Preguiça, Mestre Capra e Mestre Canela. Frequentou as escolas da região de Niterói e São Gonçalo. Atua em clubes, escolas particulares e públicas da região, desde o início dos anos oitenta.
Aos oito anos de idade se encantou com os movimentos da capoeira. Via no campo de futebol um menino, Ezir, plantando bananeira e atravessando o campo. Aos dez anos de idade, conheceu Mestre Gil, que dava aula em um terreiro de matriz africana, em Tribobó, São Gonçalo, aproximadamente entre 1973 e 1974. Um tempo depois, treinou com Mestre Tigre Baiano – Ramiro, na academia Alcântara. Já nos anos oitenta conheceu Mestre Zumbi e Mestre Boca, foi então que começou a treinar junto de um grupo. E, permanece com esse grupo de pessoas até hoje.
“Os primeiros meses de treino. Treinos com o Mestre. E também quando me tornei Mestre, em 1992, um sonho realizado, me tornar Mestre de Capoeira.”
A capoeira que conscientiza e direciona
Para o Mestre, a capoeira tem poder mágico, ela conscientiza e direciona com bons valores para a sociedade.
“A capoeira é uma grande transformação da pessoa, do capoeirista. O Mestre ensina o bom caminho. Cada aula com o Mestre é um ensinamento. Já vi a capoeira tirar muitas pessoas de caminhos ruins. A capoeira equilibra as relações familiares. Equilibra o indivíduo para que ele possa viver melhor. A capoeira é tudo, transforma e é vida.”
Mestre Preguiça
fotos: Maria Buzanovsky
Compartilhar os saberes, a passar conhecimento e incentivar.
Seu nome, Preguiça. Quando começou a treinar, no início da década de 1980, o treino era bem pesado. Um amigo, via o Mestre Preguiça pelos cantos, descansando dos treinos pesados e então disse: “Esse cara parece uma preguiça, só vive cansado”. E foi aí então que o nome pegou.
Em 1992 se formou Mestre. Aprendeu com a capoeira a compartilhar os saberes nas rodas, a passar conhecimento e incentivar a participação e as trocas. Superando brigas e desentendimentos. Ter se tornado Mestre fez muito bem para seu amadurecimento.
Espaço próprio para aulas
Possui um espaço próprio para aulas, em São Gonçalo, em sua casa. Também atua em Niterói e no Fonseca, desenvolvendo trabalhos gratuitos para a comunidade, com recursos próprios promovendo aulas gratuitas para adolescentes e crianças da Vila Ipiranga.
No seu espaço próprio, em São Gonçalo, as aulas acontecem às segundas e quartas, para crianças, adolescentes e adultos. Em Niterói, às terças e quintas. No Fonseca, as atividades ocorrem também às terças e quintas, no período noturno.
Preconceito
A respeito do racismo e das formas de sobrevivência, Mestre Preguiça registra que,
“Sofremos preconceito porque somos pretos e porque somos capoeiras. Até os anos oitenta o estigma de ser capoeira era muito evidente. Éramos vistos como esporte de malandro. Mudou muito, para melhor, porque a capoeira ganhou as escolas, mas ainda acontece.”
Garantindo a existência da capoeira
Para garantir a existência da capoeira é necessário passar o conhecimento de geração em geração,
“Os Mestres, os mais velhos formam indivíduos e cidadãos. É necessário que a salvaguarda da capoeira saia do papel. Principalmente para salvaguardar os Mestres mais antigos. Era para o Mestre de Capoeira ter seus direitos garantidos, como cidadão Mestre de Capoeira. Receber pelo seu valor, pelo seu trabalho de Mestre de Capoeira. Garantindo financeiramente a sua existência.
Muitos Mestres de Capoeira ao envelhecer não conseguem mais trabalhar e isso faz com que eles dependam do auxílio de sua comunidade, vivendo de doação.”
Mestre Preguiça observa que são poucos editais e oportunidades para atuar recebendo incentivo financeiro. Aponta que as ações dos editais no município são recentes. Recentemente foi contemplado em um edital do município de Niterói.