Mestre Aranha
Ela me leva para um outro mundo. Para uma outra dimensão. Ela equilibra a vida. Limpa a alma e o espírito. Cura”
“Com a capoeira, a mensagem que mandamos para o mundo é só mensagem de amor, união e purificação, da alma e do espírito.”
Mestre Aranha
De 1959, Mestre Aranha, Crespiniano Bonifácio de Andrade, é de Niterói, formado pela capoeira, estudou nas escolas públicas do município e aprendeu o ofício de impressão na gráfica da Imprensa Oficial. Trabalha com a capoeira e outra profissão, e dessa forma sustenta a sua família. É um homem preto, iniciado na capoeira pelo finado avô, o Senhor Samanco em 1965. Fundou a Associação São Cipriano de Capoeira, em 1979.
“Comecei a capoeira com o meu finado avô, Samanco. Ele me deu os primeiros passos e me deu o apelido de Aranha. Porque eu pulava de um lado para o outro, quando era criança. Como uma aranha.”
Depois foi aluno do Professor Camilo Bazar. Em seguida, foi treinar com o Mestre Vieira, fundador do grupo Aidê. Grupo no qual permaneceu até a sua formação de Mestre. Formado por Mestre Vieira, José Vieira dos Anjos, em 1989.
Em 1979 dava aula na Escola Brasileira de Artes, em Niterói. Nos anos 80 se apresentou na Argentina, Espanha e França, fez temporadas de apresentação de shows, pelo grupo Rio Samba Show, da Casa de Festas Oba Oba, do Sargentelli. No exterior, montou filiais do seu grupo, na França e na Alemanha. No Brasil, o grupo também está no Ceará.
Presença e atuação
“A Capoeira é capaz de transformar seu cotidiano. Através da capoeira é possível se inspirar nos ancestrais para continuar, recebendo forças para viver.”
A Associação São Cipriano de Capoeira, Centros Culturais e Academias do grupo, está presente no Morro do Cavalão em Niterói, no Morro do Castro e na Engenhoca, também em Niterói, em São Gonçalo, na Água Mineral, em Itaboraí, em Itambira, em Cabo Frio, no Portão do Carro. Realizam projetos destinados para as pessoas das comunidades onde o grupo atua. Atende toda a comunidade, crianças, adolescentes, jovens, adultos, com a preocupação do cuidado com a saúde e manutenção das tradições da capoeira e da cultura. Presente também em outros países, a Associação, por meio da atividade de Mestre Aranha, está na França, Alemanha e Argentina.
O Mestre, atuou e morou no exterior, fala francês, inglês e espanhol. Forma seus alunos e acompanha os grupos.
Mestre Aranha
foto: Maria Buzanovsky
Na educação há 50 anos.
Atua na educação há 50 anos. Na década de 1970, trabalhava em uma creche de assistência às famílias pobres em Niterói. Atuou com a capoeira para a integração e inclusão de pessoas com deficiência. Deu aula no Colégio Miraflores. No início as aulas eram gratuitas. Depois de um tempo, mais recentemente, houve apoio por meio de contratação de recreador, pela Prefeitura de Niterói, no Projeto Férias Nota Dez, em escolas do município de Niterói.
Trabalha com a inclusão de pessoas com deficiência, nos movimentos da capoeira e na música. Participa do Projeto Brotaí, em escolas públicas e no Morro do Cavalão. Luta para implementar o Projeto Capoeira nas Escolas.
“A capoeira permite que as pessoas, mesmo com pouca mobilidade, se movimentem e contribuam para a vida na capoeira. Capoeira é tudo que a boca come e tudo que a boca fala. Ela me leva para um outro mundo. Para uma outra dimensão. Ela equilibra a vida. Limpa a alma e o espírito. Cura”
São Cipriano, padroeiro do grupo
“A memória mais bem guardada de Mestre Aranha é sobre a fé,
“Algo que eu jamais vou esquecer, foi quando eu ainda menino correndo na rua atrás de pipa, cortei a sola do pé em uma lata de sardinha. Veio em meu socorro a falecida Dona Edite, minha vizinha. Ela pegou um pedaço de pano, me socorreu com os seus saberes antigos, e amarrou o meu pé. E eu me apeguei a fé, pensando no Centro Espírita que a minha mãe frequentava, e, no velho que eu tenho muito respeito. Nesse momento, a Mãe de Santo da minha mãe estava chegando na minha casa, indo visitar a minha mãe. Ela me socorreu. Eu pedi para ela me levar para o terreiro, disse que Meu Pai Cipriano ia me curar. Chegando no Terreiro, o velho orientou para as filhas de santo, quais eram as ervas necessárias para a minha cura. O que deveria ser feito. E, graças a Deus! Fiquei bom, sem sequelas. E, daí então, fiz uma promessa: ‘Meu Pai Cipriano, se um dia eu me tornar um Mestre de Capoeira, o nome do meu grupo será São Cipriano!’. Cumpri minha promessa e até hoje é o nome do meu grupo e ele é o padroeiro do nosso grupo.”
Salvaguarda e manutenção
A respeito da salvaguarda e da manutenção da capoeira, Mestre Aranha nos ensina:
“Transmitir a história da capoeira, a cultura da capoeira, fomentando o sentimento da capoeira. A capoeira foi criada pelo negro na ânsia pela liberdade. Até hoje ela é desassistida, mas ela continua aqui, lutando. Conhecer a ancestralidade e o respeito pelos mais velhos é manter a capoeira e suas tradições. Garantir o respeito pela história da capoeira. Respeitar o atabaque e o berimbau.”
Sobre o fomento e a participação nos editais
Mestre Aranha foi contemplado no Edital – Mestras e Mestres da Capoeira – Prêmio Itamar da Conceição Magalhães (Mestríssimo Chita). “Cada Mestre foi contemplado com R$ 5.000 e a comunidade se juntou para dar uma parte para auxiliar a esposa do Mestre Chita. Em razão das enchentes e chuvas que danificaram a sua casa e seus pertences, no bairro Jardim Catarina em São Gonçalo.”