Mestre Alípio
A Capoeira é educação, o Mestre ensina a disciplina da vida para as crianças e jovens. É um espaço para a cidadania
“Capoeira é tudo de bom que aconteceu na minha vida.
Ela me deu um emprego.
Fiz muitas amizades. Conheci pessoas do Brasil e do mundo. O meu nome está no mundo através da capoeira.
Venho agradecer a Deus por poder praticar um esporte genuinamente brasileiro, tão maravilhoso. Mesmo nós, idosos, não devemos parar de praticar atividades físicas, o corpo precisa de movimento.
Iê!!
Mestre Alípio
Mestre Alípio, Alípio da Silva Neto, é de Niterói, formado pela capoeira, é Mestre de Capoeira, Técnico em Segurança do Trabalho, motorista de profissão e vigilante. Atualmente exerce a função de Agente de Controle de Zoonoses na Prefeitura de Niterói. É da Associação de Capoeira Barravento, fundada em 1975. Trabalha com a capoeira e com sua profissão, assim sustenta a sua família.
“Eu dou graças a Deus. A capoeira abriu as portas para mim. Eu sou funcionário público do município de Niterói, há 36 anos, graças a capoeira. Por intermédio da minha aula de capoeira, consegui um emprego no município.”
Conheceu a Capoeira em 1973, quando participava dos Desfiles das Escolas de Samba. Depois, começou a frequentar com amigos e treinar sem vínculo. Em março de 1975, iniciou na Associação de Capoeira Barravento. Deu aula em academias em Niterói. Se apresentou em colégios, públicos e privados. Seus Mestres são Mestre Evaldo Bogado de Almeida, já falecido, e Mestre Alcion Macedo Batista dos Anjos.
Sobre as memórias do Mestre, os destaques são:
“As competições, estaduais e nacionais, na década de 1980. O Berimbau de Ouro, em Itajaí, Santa Catarina, em São Paulo e no Rio de Janeiro. São as melhores memórias que tenho na minha vida. Eu sempre fui um atleta combativo de competição. E, a gente treinava muito para combater e ganhar o campeonato.”
Utiliza o espaço da Escola de Samba Acadêmicos do Beltrão, em Niterói, para ministrar as suas aulas, atendendo as crianças, a partir de 7 anos, jovens e adultos da comunidade de Santa Rosa. Participou do Projeto Segundo Tempo.Atua na rede pública de educação do município, em algumas escolas, desde a década de 1980,
“Porém, os projetos não são de longa duração e nem de permanência e continuidade. Eles duram pouco tempo, poucos meses. Pois isso lutamos para ter a capoeira nas escolas. Realizo o Projeto Sócio Educativo na comunidade Santa Rosa, às segundas e quartas. As atividades aguardam o incentivo da Secretaria de Esportes do Município de Niterói.”
Salvaguarda
A respeito da Salvaguarda, Mestre Alípio faz o registro,
“Possibilitar que as pessoas socialmente vulnerabilizadas entrem em contato com a capoeira é transformar a realidade de cada um nas comunidades. Eu que moro em uma comunidade, que tem problemas com a violência, tenho certeza que a capoeira, com incentivo do governo, é possível garantir um ambiente de acolhimento. Com uniforme, espaço adequado, lanche. Muitas vezes as crianças vão para a capoeira porque estão com fome. A Capoeira é educação, o Mestre ensina a disciplina da vida para as crianças e jovens. Ensina higiene e cuidados. É um espaço para a cidadania. Com 63 anos, eu continuo treinando. Estou vivo, mantendo o meu corpo forte para continuar o meu trabalho de ensinar a capoeira. Já formei meu filho, meu irmão e alguns alunos.”
Mestre Alípio
fotos: Maria Buzanovsky
A capoeira e o sustento
Mestre Alípio aponta para a perda da participação na capoeira,
“As pessoas não conseguem se sustentar com a capoeira. A maioria tem profissão e trabalha em outras áreas para manter o sustento da família. Por isso, é importante garantir a manutenção dos incentivos e do fomento para os Mestres.
Outro ponto importante é ter garantias para a previdência social dos trabalhadores da capoeira, para os Mestres e Mestras de capoeira.”